segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Verón consagra o box-to-box na América do Sul


Por Eduardo Cecconi

Blog "Preleção" - Site http://www.clicrbs.com.br , quinta-feira, 16 de julho de 2009.

Somos todos resistentes a anglicanismos linguísticos, mas no futebol é inevitável recorrer a termos que ao mesmo tempo vêm do país onde nasceu este esporte, e também descrevem uma tática individual que lá surgiu e se consagrou.

Ontem, e durante toda a Copa Libertadores, assistimos ao regente Verón conduzir uma orquestra de funções e posicionamentos que o caracterizam como um legítimo box-to-box.
Já debatemos aqui no blog Preleção
o 4-4-2 do Estudiantes, campeão da Copa Libertadores com apenas um volante ( ver fotos no post "Título", anterior a este ).

É bom repetir à exaustão, para ver se os críticos da "faceirice" (sic) e defensores da tese da segurança defensiva diretamente proporcional ao número de volantes, talvez escutem:


Estudiantes campeão com um volante. Fora de casa. De virada.


O volante do Estudiantes é Braña.

A equipe de Sabella joga em um 4-4-2 quase-alinhado, com dois meias-extremos pelos lados (Pérez na direita, Benítez na esquerda), um volante centralizado, mais à direita, cobrindo ambos lados, e um box-to-box: Verón.

Sabella e Verón, que já havia desempenhado esta função no Manchester United, mostraram à América do Sul o que é um box-to-box, qual seu posicionamento, que funções desempenha, como se comporta com e sem a bola.

Uma aula prática de teoria tática.
Segundo definição de literatura inglesa especializada, o box-to-box é "o mais dinâmico e completo meio-campista, que trabalha tanto na defesa quanto no ataque. (...) É o mais versátil dos jogadores, que possui grande vigor físico para marcar, passar, chutar, e manter a posse de bola".

Há uma descrição mais perfeita do que esta para traduzir o desempenho de Verón nesta Copa Libertadores? Não há.


No diagrama tático que ilustra o post, simulo o campo de trabalho de Verón.


Em inglês, área é "box". Portanto, o box-to-box é o jogador que atua entre as duas áreas. Marca sem a bola, à frente dos zagueiros, e apoia os meias ofensivos e os atacantes, com a posse. Além disso, organiza e distribui o jogo partindo de trás, com visão periférica do todo, acompanhando a movimentação dos companheiros de frente.


Ontem, o primeiro gol do Estudiantes nasceu com o carimbo do box-to-box. Verón estava no campo de defesa, marcando, recebeu do jogador que fez o desarme, e do centro-esquerda inverteu a jogada para a extrema direita, em longo e preciso lançamento que encontrou Cellay livre.

E aí se produz um efeito em cadeia, pegando o setor desguarnecido, em sucessão de coberturas mal-sucedidas e abandonos de posição que deixou Gastón Fernández livre.


Sei que Verón está com 34 anos, e sem exatamente o vigor que esta tática individual exige. Mas ele compensa com muita disciplina e posicionamento primoroso. Verón não corre sem direção. Movimenta-se exclusivamente no espaço que delimita sua função.

De área a área, do centro para a esquerda. Recebe, levanta a cabeça, e lança. É a bola quem corre. Feito o passe, avança para pegar a segunda bola e se oferecer à reorganização caso seja necessário um recuo de segurança. E perdida a posse, retorna à marcação à frente dos zagueiros e do volante.
Verón deu aula. E ergueu a copa com justiça, mérito, e brilho. La Brujita fez mágica. Um dos melhores meio-campistas "box-to-box" dessa geração.

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