terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O "Estudiantes de Zubeldia" - Análise tática de Eduardo Cecconi

Hoje, o blog "Bruxas & Leões de La Plata" reproduz a excelente análise tática do jornalista Eduardo Cecconi sobre o Estudiantes de La Plata dos anos 60, comandado por um dos maiores símbolos da gloriosa história do clube Pincha.
Refiro-me a Osvaldo Juan Zubeldía, treinador e inovador tático na década de 60, quando levou o Estudiantes a conquista de três Libertadores da América e a um título mundial de clubes.

A gênese da catimba argentina nos anos 60



Por Eduardo Cecconi - publicado no blog Preleção , em 3 de fevereiro de 2010

Análise tática do "Estudiantes de Zubeldia" - Por Eduardo Cecconi



Depois de alguns dias de muita correria, consigo hoje retomar a série de posts sobre o livro Inverting the Pyramid, do jornalista inglês Jonathan Wilson, sobre a evolução tática do futebol. Não dissecarei o capítulo sobre o Catenaccio, porque recentemente falamos sobre este sistema aqui no Preleção. Hoje, o assunto é o surgimento de um estilo de jogo diferente na Argentina: a catimba.

Primeiro, a contextualização histórica de Jonathan Wilson, jornalista muito aplicado na recuperação de fatos, com pesquisas e entrevistas. Segundo o Inverting the Pyramid, tudo começou com a falsa impressão - entre os argentinos - de que eles praticavam um futebol de exceção, nos anos 50. Percepção que não se sustentava, pelo isolamento do futebol no país, distante dos confrontos com equipes estrangeiras e seleções. Não havia base de comparação.

Ainda no jurássico 2-3-5, a Argentina foi massacrada pela Checoslováquia na Copa de 58, por 6 a 1. Foram à Suécia acreditando-se os melhores, retornaram cheios de dúvidas. De imediato, importaram o 4-2-4 brasileiro, sem passar pelo estágio do W.M que já caía em desuso no Mundo. Abriam-se, portanto, às tendências táticas. Pretendiam evoluir.

Mas os reveses nas copas persistiram. Jogar bonito, ter técnica, procurar o gol, nada disto bastava. A Argentina buscava um padrão, uma característica, uma tradição. Como acontecera aos húngaros e austríacos da Danubian School, ou aos russos da desordem organizada, ou aos ingleses do W.M, ou até mesmo aos vizinhos brasileiros e seus virtuosos jogadores no 4-2-4.

Era preciso ter vontade de vencer. Ou melhor: vencer a qualquer custo. Aos poucos, os clubes argentinos começavam a aplicar ao 4-2-4 uma estratégia de jogo que para os perplexos olhos estrangeiros foi rotulado de anti-jogo, ou catimba. Ao invés de jogar bonito e tentar o gol, a meta passava a ser a marcação forte, o aguerrimento, e a fortaleza defensiva.

Essa característica tomou forma nas conquistas argentinas na Copa Libertadores, nos anos 60. Primeiro com o Racing, depois com o Estudiantes do técnico Zubeldia - equipe tricampeã continental, difusora de uma centena de folclores por eles negados, mas pelo mundo confirmados, de violência física (socos e chutes que até mesmo fraturas provocavam), intimidação psicológica (ameaças a adversários, uso de informações pessoais para desestabilizá-los), e a aplicação de agulhas (”pinchas”) para espetar adversários.

As intimidações relatadas por Jonathan Wilson chegam a ser, de tão absurdas, engraçadas. Comandados por Bilardo, volante que representava em campo as orientações de Zubeldia, os jogadores do Estudiantes esmeravam-se em desestabilizar os oponentes. Em um jogo, descobriu-se que um adversário manteve relacionamento quase incestuoso com a mãe, recém-falecida. Um jogador do Estudiantes se aproximou dele e falou - segundo o Inverting the Pyramid: “parabéns, até que enfim você conseguiu matar a própria mãe”.

Mas o Estudiantes tricampeão da Libertadores não era apenas o precursor da catimba, representante de um futebol que ultrapassava a virilidade para chegar à violência. O time de Zubeldia trouxe à Argentina duas inovações estratégicas aplicadas ao 4-2-4: a marcação-pressão e a linha de impedimento. O Estudiantes se adiantava, mesmo sem a bola posicionava-se à frente da própria intermediária. Retirava espaço do adversário, e combatia quem recebia a bola com dois ou três jogadores. Os pontas - La Bruja Verón e Ribaudo - auxiliavam a preencher o meio-campo, como faziam os “tornantes” do catenaccio italiano (wingers avançados com a bola, recuados sem ela).

Os recursos de anti-jogo ficaram, entretanto, mais conhecidos do que a linha de impedimento e a marcação-pressão adiantada em função dos confrontos com os clubes europes, em dois jogos, nas finais dos Mundiais Interclubes.




Eduardo Cecconi , 30 anos, formado em jornalismo pela UFRGS em 2002, mas já trabalhando na imprensa esportiva como repórter da Rádio Band AM em Porto Alegre desde 1999.


Passou pelas redações do Terra e do Jornal do Comércio, ambos em Poa, e foi durante quatro anos correspondente da Zero Hora no interior do RS, primeiro em Cruz Alta, depois em Pelotas.
Ainda em Pelotas se formou treinador de futebol em curso do Sindicato dos Treinadores do RS. Comandou o blog Cidade Futebol, sobre os times de Pelotas - já encerrado - e agora toca o blog Entrevero (sobre todo o futebol do interior gaúcho) e o Preleção, só sobre táticas.
Cecconi, também é setorista do Inter no clicEsportes, e lançou em 2009 o livro "A noite que não acabou", sobre o acidente com a delegação do Brasil de Pelotas, que já vendeu 1,3 mil unidades.

Eduardo Cecconi


Redator - clicEsportes


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