domingo, 3 de janeiro de 2010

O 3-6-1 de Sabella na final do mundial de clubes, por Eduardo Cecconi

Neste post, vou reproduzir uma entre tantas ótimas análises táticas, do mestre Eduardo Cecconi, publicadas em seu blog, "Preleção":

O 3-6-1 do Estudiantes na final do Mundial
Publicado no blog "Preleção", em 02 de janeiro de 2010




Torci muito pelo Estudiantes de La Plata na decisão do Mundial de Clubes da Fifa em dezembro. Como estava em férias, não pude à época trazer ao debate aqui no blog Preleção o confronto com o Barcelona. Mas agora, aproveitando o sossego no plantão deste feriadão de Ano-Novo, posso recuperar o assunto, antecipando: não gostei das escolhas de Alejandro Sabella.


O técnico argentino sistematizou o Estudiantes no 3-6-1, com a clara intenção de combater as principais virtudes do adversário. Em praticamente tudo ele optou pelas diretrizes dos sistemas com três zagueiros aplicados no Brasil. A começar pela marcação individual, principalmente na defesa. Ré, por exemplo, não atuou como um zagueiro pela esquerda, mas sim como marcador de Messi quando este jogava por ali. Cellay fez o mesmo com Henry do outro lado, e Desábato - ao invés do "zagueiro da sobra" - jogou como sombra de Ibrahimovic.

No meio, uma espécie de trio de volantes: Braña, Verón e Benítez, espelhando com Busquets, Keita e Xavi. Tendo La Brujita, claro, a incumbência de adiantar-se a partir da recuperação da posse de bola, para armar os contra-ataques, que tinham como estratégia de saída rápida o acionamento do ala-direita Clemente Rodriguez, jogador de predicados técnico deficientes.

Perez centralizou, para fazer o enganche entre os três meio-campistas e o centroavante Boselli. Sem a bola, entretanto, todos recuavam, formando um compacto bloco de dez camisas brancas do Estudiantes à frente da área. Situação que favorece o estilo de jogo do Barcelona, equipe que gosta de manter a posse mesmo sem objetividade constante - o Barça sabe trocar passes de lado a outro, na intermediária ofensiva, aguardando a abertura de um pequeno espaço para concluir.

Em todo caso, é de se louvar a aplicação tática e o aguerrimento dos jogadores. No 3-6-1, com pouquíssima posse de bola, o Estudiantes marcou em uma das únicas chances criadas, proporcionou poucas chances, e esteve a dois minutos de conquistar o título. É inegável que a estratégia aplicada a este 3-6-1 "deu certo", mesmo sem o título, pois o gol de empate que levou a partida à prorrogação saiu de lance fortuito quase aos 45min do 2º tempo, quando eu já comemorava o título sentindo-me um hincha de La Plata.

A derrota na prorrogação, entretanto, evidencia um paradigma importantíssimo, que acompanha o futebol desde seus primórdios: futebol de resultado, ou bom desempenho? O Estudiantes jogou futebol de resultado, como fazem os técnicos brasileiros adeptos do 3-6-1, abdicando da posse de bola para anular virtudes e torcer pela marcação de um gol em lance de bola aérea/parada. O Barcelona jogou seu costumeiro futebol de bom desempenho, iniciando a partida no 4-3-3, adiantando suas linhas sem a bola, atuando no campo do adversário, com praticamente toda a posse de bola.

Sei que há diferenças técnicas gritantes entre os jogadores dos dois elencos, mas...daria para o Estudiantes atuar de outra forma? Eu acredito que sim, mas respeito a decisão de Sabella.


Eduardo Cecconi, 30 anos, formado em jornalismo pela UFRGS em 2002, mas já trabalhando na imprensa esportiva como repórter da Rádio Band AM em Porto Alegre desde 1999.

Passou pelas redações do Terra e do Jornal do Comércio, ambos em Poa, e foi durante quatro anos correspondente da Zero Hora no interior do RS, primeiro em Cruz Alta, depois em Pelotas.
Ainda em Pelotas se formou treinador de futebol em curso do Sindicato dos Treinadores do RS. Comandou o blog Cidade Futebol, sobre os times de Pelotas - já encerrado - e agora toca o blog Entrevero (sobre todo o futebol do interior gaúcho) e o Preleção, só sobre táticas.
Cecconi, também é setorista do Inter no clicEsportes, e lançou em 2009 o livro "A noite que não acabou", sobre o acidente com a delegação do Brasil de Pelotas, que já vendeu 1,3 mil unidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário