segunda-feira, 24 de maio de 2010

Lições de uma vitória que derrota



Por Nani Albuquerque

Eu já fiz uma quase declaração ao Estudiantes de La Plata, já contei meu segredo sobre como me seduz este grupo. Admiro o clube, sobrevivente representante do futebol simples, um clube enorme que conserva o ar da província – no melhor sentido.

Não sigo os ensinamentos do treinador da seleção do Brasil, então não tenho compromisso com o patriotismo. Natural de La Republica de La Boca, fui pinchada pela equipe de La Plata. Tive problemas por este deslize, que não abalou em nada meu sentimento xeneize, só mostrou como é perigosa a sedução.
 
Que entendam como melhor lhes interessar – já que cada um lê de acordo com o que quer responder – Estudiantes mostrou que a derrota nem sempre é de quem a merece. Maldito 88’, duas vezes ele, campeão eliminado por gols no final das duas partidas, perdeu vencendo. Uma equipe sensacional e dois minutos fatais.
 
Há tempo considero a melhor equipe do continente, e um gol escondido na fumaça não mudará minha modesta opinião. Da partida todos sabem, e não estou aqui para análises profundas, embora questionem o sábio treinador Sabella que ao nos presentear com Angeleri em campo, acabou por deixar sua equipe mais defensiva, permitindo maiores – frágeis – investidas do adversário. Não o condeno, Pincha apostou tudo, lutou em duas frentes, o cansaço jogou contra a equipe que se entregou de alma em todas as partidas dos dois campeonatos. Foi a campo com todas as forças, sem abdicar de suas características ou perder sua essência. Quem acompanhou a equipe sabe, era evidente o desgaste e limite físico a que chegou – não esqueçamos que vem em alto nível desde 2008, com a mesma base.
 
Lembram que confessei minha debilidade? Equipes com homens de caráter, personalidade, maturidade e talento. Pois é, não estava enganada, mesmo com suas últimas forças, valentia lhes sobrou. Fui orgulhosamente ser seduzida por eles.
 
A primeira partida foi perdida ao apagar das luzes, e a segunda seguia plenamente controlada pelos caval(h)eiros até que seus benditos torcedores prenderam fogo na partida e prejudicaram seu goleiro com a própria paixão. Para alguns, algo normal, para outros, situação que justificaria a paralisação da partida, ou quem defende que a arma veio da própria casa e tudo estaria resolvido, a polêmica não terminará logo.
 
Confortavelmente sentado e emocionalmente centrado, se pode julgar e condenar a todos, sem o mínimo de culpa ou responsabilidade. Mas neste ponto aparece o que sempre dizem os educadores, faltam limites. Limites. Pelo menos às bobagens que saem a falar a quem (não) queira ouvir. Mas isso é pedir demais, me conformei. Aprendi.
 
Após eliminações, começa o espetáculo dos analistas especializados em resultados prontos. Todos sabiam que seria assim, claro que sabiam. Aqueles homens jogando? Mero detalhe, eles já sabiam – não falam antes para não estragar a sua surpresa. E entendem, de tudo. E tem certeza, de tudo. Que não deveria ter terminado assim, que o futebol é festa, que um menino mal criado fez feio na saída, e que o visitante muito educado e inocente, foi covardemente agredido.
 
Mas eles já sabiam disso também, porque houve uma criação nos primórdios na humanidade (nas cavernas ainda): uma palavra chamada “catimba”. Ela é usada toda vez que faltam argumentos para admitir a capacidade do outro ou para justificar seus próprios delírios. Para compor com esta invenção, houve outra, acredito que desta mesma época, o coitadismo. O outro é bandido, contra os perseguidos, menosprezados – porém, superiores.
 
Eles falaram: “é muito mau aquele menino, e os amigos dele não sabem perder.” Porque além de futebol, entendem de psicologia, sociologia, medicina, pedagogia, arte, história e o que mais aparecer. Ciente disto, tentei me conformar e mais uma vez aprender. Não podemos contra eles. Eles sabem, eles julgam e eles condenam. Ok.
 
Ficamos assim? Desculpem decepcioná-los, não sei perder. Dizem que se aprende com a repetição, porque acostuma, eu não acostumei, não aprendi, não sei. Não sou boa perdedora, mau caráter, me auto-acuso, se assim quiserem. Não aceito derrota, quero logo a revanche e pior ainda (isso é inaceitável), vejo imagens dos acontecimentos (captados pela televisão) desde o início. É isso, aí está o problema! Vi que o menino mau não é o monstro feio, e para desespero dos que já estão decepcionados comigo, me senti muito parecida com ele.
 
Sentir-se ofendido por sua gente, defender o sentimento da arquibancada. Me auto–acuso do que for para satisfazer as pessoas de bom coração que ficaram horrorizadas com a reação de alguns jogadores do Estudiantes, mas repito, sou orgulhosa de ter sido seduzida por eles. Paradoxalmente, doeu na minha alma. Quem que tem ídolos vai entender. Você admira alguém, acredita que tenha as melhores características que alguém pode ter, aí a pessoa – após anos – se revela diferente, é triste e espero que seja apenas um erro de interpretação de minha parte…
 
Pela triste lógica do futebol (feliz pelo meu lado torcedora que estará livre (?) da tentadora sedução), este grupo será “desfeito”. Clemente se aproxima de minha Republica, Angeleri pode seguir ares mais distantes do que eu gostaria, Boselli deve reforçar a colônia argentina na Europa… Mas para a sorte dos pincharratas, seguirão com a magia da Bruxa, Cellay deve continuar e com a mística que sabem sustentar, outros belos grupos serão montados e seguirão no topo.
 
Conto mais um segredo (descobri na quinta feira), é tão bela esta equipe que o futebol não queria eliminá-la. Ficou envergonhado porque perdeu para uma chegada da sorte e – para tentar amenizar o golpe – escondeu o gol adversário em uma nuvem. Bonito seu gesto.
 
Quem nasce, perde. Livros, canetas, conforto, vergonha, malas, celular, dinheiro, educação… Todo mundo perde, alguns se acostumam a perder e outros acham que tem que saber perder (não coincidentemente, os que mais perdem)
 
Maus perdedores, maus vencedores, todos maus. Não sabemos nada, eles sabem. Mas só nós entendemos como revoluciona nosso ser e desperta o mais profundo instinto perder para um pequeno ou vencer a um gigante. Pior que ser mau perdedor, é ser mau vencedor, mas compreenda-se, talvez seja a falta de costume.
 
Triste eliminação do Estudiantes, mais triste deve estar a Copa Libertadores, que não ficará nas mãos da equipe que conquista.

Escreveu para este blog, como convidada especial: Nani Albuquerque, porteña, 23 anos, estudante de Administração e torcedora do Boca Juniors.

Um comentário:

  1. Me cuesta leer el portugués, pero lo voy entendiendo de a poco.
    Mi querida amiga, en mi corazón sólo existe Estudiantes de La Plata, y le voy a contar que perder es triste, pero cuando ganaste tanto como lo hemos hecho nosotros, el perder es sólo una circunstancia del buscar, esto es un deporte, y hasta los más renombrados equipos pierden y ganan.
    Si hasta cayó el gran Barcelona de Messi!
    Distinto es ser un perdedor, nosotros, los platenses lo vemos de cerca.
    Por otro lado, hoy, mucho más tranquilo luego de esa eliminación estúpida, me siento feliz con mis jugadores, cuerpo técnico y dirigentes. Pero...quiero más, quiero que el próximo semestre me vuelvan a mostrar que están dispuestos a dejar el alma por conseguir la gloria, sólo así la amargura de la derrota se puede aceptar, Como una condición posible en búsqueda de la gloria suprema.
    Por siempre Estudiantes de La Plata, mucho más que un simple club de fútbol, es una forma de vida.
    Abrazo

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